Grandes paixões se fazem, também, de experiências dolorosas. Jardim de inverno, livro que Zélia Gattai publicou em 1988, reúne parte dos momentos que ela e Jorge Amado viveram nos anos de exílio europeu.
Refugiados na Tchecoslováquia, no Castelo dos Escritores, em Dobris, os dois viveram, apesar da angústia e da saudade, momentos inesquecíveis, como a viagem no célebre Transiberiano que os levou à China, na época um país indevassável, e a visita à Mongólia, terra "encravada nos confins do mundo". São essas experiências que ajudam Zélia a reafirmar uma visão complexa da existência, em que as dores e as alegrias são o verso e o reverso de uma mesma aventura.
A autora avança até o Congresso Mundial da Paz, realizado no Ceilão em 1957, onde o casal esteve ao lado de Matilde e Pablo Neruda; a Salvador de 1968, quando receberam a visita inesperada do cineasta Roman Polanski; e o ano de 1984 quando, em Paris, Jorge foi condecorado com a Legião de Honra.
Ao narrar com calor e fluência, Zélia ressuscita um pouco o que se perdeu e transforma sua memória pessoal em memória coletiva, sem abdicar da atmosfera delicada de confissão e de intimidade.
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